Casa de penhores
Quanto vale um sorriso?
- eu me pergunto!
E a resposta me dói, me
dilacera,
quando a verdade, cada vez mais rara,
ri do que creio
zomba do que sinto
e lança a dura
realidade
em minha cara.
Já não se encontra o
abraço mais sincero,
nem um botão de luz
que florescesse
num solo germinado
de carinhos...
Hoje, a ternura é
máscara
que emerge
nesta babel de
sentimentos
sem sentires
nesse comércio
desvairado
de interesses...
- me agrade, e eu retribuo
com sorrisos...
- me sirva, e
empenharei
minha amizade!
Este é o retrato cruel
e doloroso
da vida, hoje, neste plano
em que vivemos,
distanciados do que existe
de mais puro
da humanidade mesmo
que esquecemos...
Não sei mais quanto custa
uma ternura,
um ouvido amigo
pra escutar um sonho...
não sei o preço, afinal,
do amor sincero
que não se possa comprar,
por puro amor...
Tenho empenhados por valores vis
carinho, afetos,
grandes amizades
ditas eternas no momento aqui
mas que se perdem
como grãos de areia
nos “infinitos” que se
acabam
logo ali...
Interesses travestidos
de ternuras
desfilam vis nos palcos
da existência...
E a fraude é tanta que
já
nem se sabe
onde ficou perdida a
nossa
essência...
E eu me pergunto sempre
-
em devaneio -
- onde é que vai parar
tal desatino?
Esse cambalear sem fim
num mundo a esmo
pelos vazios dessa
desumanidade
pelos desvãos dos mais
rasteiros
sentimentos???
Quando é que o homem
vai redescobrir-se
humano?
Quando é que vai se
defrontar
consigo mesmo?
(Linda Brandão Dias)