domingo, 30 de novembro de 2014

            CONTORNOS

Só sei o mundo
porque ainda faço do sonho
minha estação de esperas...
As rotas não são as mesmas.
As retas não se confundem.
E a síntese de todos os tempos
se oculta, longínqua
na dimensão do cosmos:
            Inatingível.
Há multidões de certezas
desfilando suas procissões
de temores à verdade.
            transitórias.
Passageiras de um tempo vago,
palavras rotas
esbarram-se no espaço
à procura da essência
de si mesma...
Só sei o sonho
porque ainda faço da espera
uns dos degraus da crença.
E no parto dos meus silêncios
reparto as vozes da vida
com as canções dos infinitos
que liberto...
Dar adeus aos sonhos
é renunciar a si mesmo...
A vida,
ela só existe na projeção
dos ideais
que a ronda das horas
faz nascer do âmago...
Só sei a crença
porque no traço exato
que os dias esboçam
risco contornos novos
e caminho sem rumo
desaprendendo os ritos
que o ontem definiu...
É no vôo
o espaço justo de criar.
Existir não é, senão,
forja-se a cada novo instante...
Pinçar do íntimo
a face própria ao momento
das expressões plurais
que buscam vir a tona...
E porque há uma promessa de vida
até no impulso transitório
da brisa,
redescobrir a rima exata
            de Ser
na simbiose que nos faz
terra... e infinito!...

             (Linda Brandão Dias)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

SORRISO INTERIOR
UMA PRÁTICA SAUDÁVEL



Existem práticas simples que nos ajudam a tornar mais leves os nossos  dias. Uma delas é a do sorriso interior. Não custa nada tentar pois é de graça e não leva muito tempo.  Mas seus efeitos perduram e só fazem bem.
Você pode praticar sempre que quiser, de preferência sentado e puder dedicar alguns minutos à prática.
Proceda assim:
            PRIMEIRO PASSO:   Relaxe o maxilar inferior e deixe sua boca levemente aberta.  Comece a respirar pela boca, mas não profundamente. Apenas respire suavemente.  Simplesmente deixe o corpo respirar, de modo que a respiração se torne cada vez mais superficial e automática. Quando você sentir que a respiração se tornou bem superficial, com sua boca aberta, o maxilar relaxado, todo o seu corpo se sentirá muito relaxado.
            SEGUNDO PASSO:  Neste momento, comece a sentir um sorriso   –   não no rosto, mas em todo o seu ser – você será capaz de senti-lo. Não é um sorriso que vem dos lábios.  É um sorriso existencial que se espalha pelo seu interior. Tentando, você saberá o que é, porque não há como ser explicado. Mas há como senti-lo nitidamente. Não há nenhuma necessidade de sorrir com os seus lábios. É como se você estivesse sorrindo a partir da barriga. É um sorriso, não um riso; é algo muito, muito leve, delicado, frágil – como se um pequeno botão de rosa estivesse se abrindo na barriga e a fragrância se espalhando por todo o corpo. 
         Quando você tiver conhecido o que é esse sorriso, poderá permanecer feliz por vinte e quatro horas. E sempre que você sentir que está perdendo a felicidade, apenas feche os olhos e se apodere daquele sorriso novamente, e ele estará aí, dentro de você, prontinho para desabrochar. E, durante o dia, quantas vezes você quiser, você poderá se apoderar dele.


            É algo verdadeiramente muito simples, mas muito benéfico. Experimente e comprove. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!  MarioQuintana
Carlos Drummond de Andrade

Não há tempo consumido
Nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
De amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
Transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
Amar é o sumo da vida.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

CONSCIÊNCIA

A encruzilhada é ponto
de partida.
O rumo a ser seguido é escolha
nossa.
E se a opção for certa ou for
errada,
por antecipação dizer não há
quem possa...
A cada nova manhã, novos
caminhos.
São outras dúvidas, perguntas,
decisões...
Não há, porém, a interferência
alheia
quando seguimos nossas
opções...
Por mais que a vida empurre,
os outros falem,
por mais que os fatos calem
na razão,
não há, senão, a nossa
consciência,
a nos dizer, no fundo,
a direção...
Somos autores das nossas
tragédias,
romances, dramas, ou
final feliz.
Com outras tantas várias
personagens
vamos tecendo a vida que
se quis...
Pedras, percalços, sempre
fazem parte,
qualquer que seja a nossa
caminhada,
como também podemos ver,
ao longo,
folhas e flores desenhando
a estrada...
Nos caberá parar, mudar
o rumo
retroceder, até, na nossa lida,
lembrando, permanentemente,
que os declives
não foram feitos só
para descida....

            Linda Brandão Dias

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

PARALISIA


A ESCURIDÃO CHEGOU AOS PEDAÇOS
            PINCELOU A SALA
                  SOMBREOU MEU ROSTO
                        SE INSTALOU NA ALMA...
PALAVRAS ARRASTADAS PELA MÃO
                 RANGERAM SEU SILÊNCIO INCÔMODO
                        ESBARRANDO EM PAREDES
                               ECOANDO NA PENUMBRA
                             RESVALANDO PELO CHÃO...
O OLHAR DE PÁGINA EM BRANCO
SEQUER PENETROU...
                     ESPELHO SEM REFLEXO
                                   NA PAISAGEM DERROTADA
O QUE ERA BRILHO SE DESVANECEU
            SUSSURROS DE SILÊNCIO
                         SE ESPALHARAM...
                          E AQUELE ROSTO QUE EU VI

                                  NÃO ERA O MEU!!!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CATIVEIRO

Por que  temer  o vôo
se ele é o limite das limitações?!!!
O homem não sabe. E, porque não sabe, teme!
E, porque teme, não ousa...
E, porque não ousa, se amesquinha.
se acomoda
se subestima
morre..
Sem nunca ter um dia erguido os olhos...
E acostumado a não olhar pro alto
não vê, senão as sombras projetadas
por toda a luz que só se avista acima...
E, por somente vislumbrar as sombras,
não questiona. Pára. Não cresce. Não busca!
Temendo o impulso do seu próprio vôo,
podando as asas do seu próprio íntimo...
E, por temer seus ímpetos
e amordaçar seus gritos,
fecha-se, inteiro, em seu manto covarde...
Venda seus olhos às vistas do infinito,
constrói seus muros, e, ao fim, aniquilado,
lamenta o seu viver tão desgraçado,
culpa o alheio, e morre, pouco a pouco,
na chama oculta, que em si mesmo
arde!!!  
(Linda B.Dias) 
BUSCA

Preciso me encontrar
Comigo mesma.
Já não me vejo faz tempo
                        - estou ausente –
Ouço uma voz cansada
            E a desconheço.
Busco o sorriso fácil
            E o rosto é sério.
Minha esperança vã
                        Se esfumaçou.
Ando atrás das palavras
            Com que antes
Me deleitava brincando
            E extravasando...
Acho que em minha ausência
            De mim mesma
            Até meu canto
                        Já silenciou.
Tinjo de cinza as cores
            Do meu céu.
Numa janela que
Nem abro mais.
            Tento escrever mas
            As palavras fogem.
Até perdi

A intimidade com o papel.
(Linda B.Dias)

quinta-feira, 12 de junho de 2014


 A MÁQUINA DE ESCREVER

            Muitos jovens de hoje nem mesmo chegaram a conhecer a velha máquina de escrever....  Mas ela foi uma companheira incansável de muita gente, inclusive eu. 

            No tek-tek de suas teclas quantos desabafos, quantos trabalhos, quantos sentimentos ela viu serem transbordados em textos, muitas vezes incompletos, muitas vezes não publicados, tantas vezes molhados por lágrimas, e outras tantas efervescentes de alegria e romantismo...

            No seu silêncio amigo e cúmplice, a velha máquina de escrever compartilhou do parto de tantos versos... e deu à luz tantas poesias que o som de suas teclas sempre nasceu como música aos ouvidos de quem a dedilhava, ávida por derramar sua canção no papel inerte e imaculado.

            Ghiaroni, como ninguém, o descreveu em sua magistral poesia que hoje publico em homenagem ao autor.  
 

MÁQUINA DE ESCREVER

- Giuseppe Ghiaroni

 

Mãe, se eu morrer de um repentino mal,

vende meus bens a bem dos meus credores:

a fantasia de festivas cores

que usei no derradeiro Carnaval.

 

Vende esse rádio que ganhei de prêmio

por um concurso num jornal do povo,

e aquele terno novo, ou quase novo,

com poucas manchas de café boêmio.

 

Vende também meus óculos antigos

que me davam uns ares inocentes.

Já não precisarei de duas lentes

para enxergar os corações amigos.

 

Vende, além das gravatas, do chapéu,

meus sapatos rangentes. Sem ruído

é mais provável que eu alcance o Céu

e logre penetrar despercebido.

 

Vende meu dente de ouro. O Paraíso

requer apenas a expressão do olhar.

Já não precisarei do meu sorriso

para um outro sorriso me enganar.

 

Vende meus olhos a um brechó qualquer

que os guarde numa loja poeirenta,

reluzindo na sombra pardacenta,

refletindo um semblante de mulher.

 

Vende tudo, ao findar a minha sorte,

libertando minha alma pensativa

para ninguém chorar a minha morte

sem realmente desejar que eu viva.

 

Pode vender meu próprio leito e roupa

para pagar àqueles a quem devo.

Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa

esta caduca máquina em que escrevo.

 

Mas poupa a minha amiga de horas mortas,

de teclas bambas, tique-taque incerto.

De ano em ano, manda-a ao conserto

e unta de azeite as suas peças tortas.

 

Vende todas as grandes pequenezas

que eram meu humílimo tesouro,

mas não! ainda que ofereçam ouro,

não venda o meu filtro de tristezas!

 

Quanta vez esta máquina afugenta

meus fantasmas da dúvida e do mal,

ela que é minha rude ferramenta,

o meu doce instrumento musical.

 

Bate rangendo, numa espécie de asma,

mas cada vez que bate é um grão de trigo.

Quando eu morrer, quem a levar consigo

há de levar consigo o meu fantasma.

 

Pois será para ela uma tortura

sentir nas bambas teclas solitárias

um bando de dez unhas usurárias

a datilografar uma fatura.

 

Deixa-a morrer também quando eu morrer;

deixa-a calar numa quietude extrema,

à espera do meu último poema

que as palavras não dão para fazer.

 

Conserva-a, minha mãe, no velho lar,

conservando os meus íntimos instantes,

e, nas noites de lua, não te espantes

quando as teclas baterem devagar.

terça-feira, 3 de junho de 2014


SIMPLESMENTE CHUVA
 

                                   Chove.

                                   E se eu fosse a água que lá fora

                                   inverte a meta que eu quero

                                   e busca o chão?

                                   Talvez pudesse, em cada fio

que vem depois se transformar

em rio

buscar o oceano dos teus pés

e descobrir quem és...

Evaporar-me no calor de

tua mão

ou penetrar nos rumos

de tua pele

e aguardar que, enfim,

tu te reveles

me mostrando como és por dentro

- razão lá longe –

coração no centro

a irradiar toda e qualquer

emoção

Ou quem sabe até, eu descobrisse

que toda vez que você risse

escondesse um pranto

no canto

do teu peito em desencanto.

Mas pode ser, até que a maldade

que tu, às vezes, com certo disfarçar

viesse à tona

e encerrasse a farsa.

Chove.

E enquanto a chuva não passa

eu espreito, infeliz, pela vidraça

do teu olhar doce e

indiferente

que nem notou que eu também

sou gente

e que me fita como se eu fora

transparente.

Talvez porque, tal qual a própria chuva

que vai e vem, no tremular das horas

tu mostras ao mundo

não contendo o estio

que tal qual ela, chora...

mas sendo sempre frio!...

                                   Linda Brandão Dias

quarta-feira, 21 de maio de 2014


Para deleite do espírito, pequenas doses homeopáticas da

sensibilidade de alguns dos  grandes trovadores.....

 

            Enganam-se os ditadores

            que, no seu furor medonho,

            mandam matar sonhadores,

            pensando matar o sonho!

                        (Joubert de Araujo Silva)

 

                        Quanta pose encomendada...

                        Quanto rosto carrancudo...

                        Gente sem glória de nada,

                        com tanto orgulho de tudo!...

                                    (Waldir Neves)

 

                                   A lágrima é um pingo d’água

                                   irisado e transparente:

                                   - a bailarina da mágoa

                                   dançando no olhar da gente.

                                               (João Rangel Coelho)

 

                                               Se é tão modesta a bondade

                                               que nem busca recompensa

                                               quem faz o bem por vaidade

                                               não é tão bom quanto pensa.

                                                           (Elton Carvalho)

 

                                                           A noite chega... e em surdina,

                                                           vencendo os dias tristonhos,

                                                           aguardo a doce rotina

                                                           de te rever nos meus sonhos.

                                                                       (Rodolpho Abbud)

 

                                                                       Neste mundo de defeito

                                                                       no perpassar destes anos,

                                                                       vivemos sem ter direito

                                                                       aos tais DIREITOS HUMANOS!

                                                                                   (Aloísio Bezerra)

 

                                                                                  O espelho mostra inclemente,

                                                                                  nas marcas que o tempo aviva,

                                                                                   que hoje eu sigo para a frente

                                                                                  em contagem regressiva.

                                                                                              (Almerinda Leporagi)

 

 

quinta-feira, 15 de maio de 2014


MOSAICO

 
Ninguém se basta

a si,

por si,

nem tão somente,

pois este mundo é uma grande colméia...

            Há bons e maus.

            Há justos. Há injustos.

Grande é o  mosaico

das vidas humanas...

            Vidas monásticas... Vidas profanas...

            Que a existência compõe

nos seus segredos,

e decompõe

e descompõe

deixando medos

onde o destino é a grande bateia...

            E, ainda assim,

há seres que se iludem,

perdidos no reinado do egoísmo,

            perpetuando as vozes do ativismo

das sucessivas gerações de orgulho...

            - Como olvidar a face à nossa frente,

            se ela é um pedaço da nossa própria face???

- Como esquecer que os sonhos dos passantes

são projeções dos nossos próprios sonhos??

            - Como omitir a existência alheia

            que está ligada à nossa própria vida???

Em nossa voz ecoam outras vozes...

            Por nossas veias correm outros sangues...

                        No nosso canto cantam outros cantos...

No nosso riso riem mais sorrisos...

            Em nosso choro... Rolam outros prantos...

Não somos um,

            posto que a vida é inteira,

e, ainda que sós,

restemos nos escombros

de uma existência falsa ou verdadeira,

            há de ficar,pra sempre,

                        em nossos ombros,

a eterna sombra

            de outros tantos ombros!!!     

                                   (Linda Brandão Dias)

quarta-feira, 5 de março de 2014

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


METAMORFOSE

 

Fui gaivota...

            E voei sonhos brancos

                        na azulejada transparência do infinito

                                   diluindo arabescos

                                               na fluidez volátil do horizonte...

                                                          

E fui as ondas...

            Vaguei com calma

                        sobre profundezas que ousei sondar,

                                    e me lancei, selvagem,

                                                sobre as pontiagudas pedras e recifes

                                                           que feriram meu caminho sinuoso...

                       

E fui o céu...

            Amanheci auroras

                        garimpando brilho nas nuances douradas

                                    ou galopei luares iluminados

                                                vencendo distâncias...

 

E fui a chuva...

            Curvei-me oblíqua sobre a terra

                        fundindo-me, lacrimosa, na vertigem dos oceanos,

                                   fecundando o solo virgem das paragens desérticas,

                                               chorando nas vidraças das civilizações,

                                                           ou transmudando-me em nuvem

                                                                      no eterno ciclo vital da natureza...

Eu fui navio

            imponente... portentoso... impetuoso

                        E naveguei arrojos

                                   na horizontalidade do oceano imenso...

                                                          

                                              

E fui jangada,

            pequena, serena, pacífica,

                        a me deixar levar nas rédeas dos simples bafejos

                                   a insuflar-me a alvura semi-transparente

                                               da quase fluídica vela balouçante...

                                                                      

Eu fui rochedo...

            E enfrentei a fúria inclemente do sol

                        a me chicotear,

                                   e a ira titânica das marés impetuosas

                                               a me açoitarem o corpo nu...

 

Eu fui alga...

            E devassando os verdes mais profundos

                        emaranhei-me... para construir...

 

                                    Eu fui... Eu fui...

 

Mas veio indômita, hostil, vertiginosa,

            voraz a vida que me arrebatou...

                        Podou-me as asas.

                                    Varou-me o corpo lasso.

                                               Rasgou-me as entranhas.

                                                           Naufragou-me o alento.

                                                                      Fui vencida!!!

 

                        Hoje...

 

            Hoje sou, apenas, de tudo o que ficou

                        a apodrecida madeira de um cais abandonado,

                                   que aguarda, com a mesma indiferença,

                                               o suave roçar das marés semi-adormecidas,

                                                           ou a espumante fúria do oceano...

                                                                                  Eu quase... já não sou...

 

                                                                                             (Linda Brandão Dias)