METAMORFOSE
Fui gaivota...
E voei
sonhos brancos
na
azulejada transparência do infinito
diluindo
arabescos
na
fluidez volátil do horizonte...
E fui as ondas...
Vaguei com
calma
sobre profundezas que ousei sondar,
e me lancei, selvagem,
sobre as pontiagudas pedras e recifes
que
feriram meu caminho sinuoso...
E fui o céu...
Amanheci
auroras
garimpando
brilho nas nuances douradas
ou galopei luares iluminados
vencendo distâncias...
E fui a chuva...
Curvei-me
oblíqua sobre a terra
fundindo-me,
lacrimosa, na vertigem dos oceanos,
fecundando
o solo virgem das paragens desérticas,
chorando nas vidraças das
civilizações,
ou
transmudando-me em nuvem
no eterno
ciclo vital da natureza...
Eu fui navio
imponente...
portentoso... impetuoso
E
naveguei arrojos
na
horizontalidade do oceano imenso...
E fui jangada,
pequena,
serena, pacífica,
a
me deixar levar nas rédeas dos simples bafejos
a
insuflar-me a alvura semi-transparente
da
quase fluídica vela balouçante...
Eu fui rochedo...
E enfrentei
a fúria inclemente do sol
a
me chicotear,
e
a ira titânica das marés impetuosas
a
me açoitarem o corpo nu...
Eu fui alga...
E
devassando os verdes mais profundos
emaranhei-me...
para construir...
Eu fui... Eu fui...
Mas veio indômita, hostil, vertiginosa,
voraz a
vida que me arrebatou...
Podou-me as asas.
Varou-me o corpo lasso.
Rasgou-me
as entranhas.
Naufragou-me
o alento.
Fui
vencida!!!
Hoje...
Hoje sou,
apenas, de tudo o que ficou
a
apodrecida madeira de um cais abandonado,
que
aguarda, com a mesma indiferença,
o
suave roçar das marés semi-adormecidas,
ou
a espumante fúria do oceano...
Eu
quase... já não sou...
(Linda
Brandão Dias)
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